7.3.07

paisagens

cada paisagem configura-se num todo pseudo-particionado, completo e faltoso, subjetivo e inconsciente, orgânico e concreto. são meros símbolos as palavras que tento utilizar para descrevê-lo, imperfeitos ideais de coisa, o que não é se [se aproximar] nem se [distanciar], mas tal-vez associar.

descrever qualquer paisagem é um ato ingênuo, pois esta se vivencia, é uma experiência, não um conceito. os comentários são com intenção de intensificar vivências, não para se guardar conceitos e ficar parado como um sábio-tolo.

na arte, a paisagem pode ser associada às performances, onde se entrelaçam ações improvisadas; mixando poesias, músicas, danças, apresentações teatrais, pressupostos conceituais, ... o que a torna uma arte performática, uma arte de paisagens, cenas complexas, multifatores, rizomas e reações.

um de meus eus percebe o quanto tenho eus que são meus e eus que não são meus, quem sabe um equilíbrio fosse uma saída, porém não sei mais o quanto me vale essas saídas ideais, antes fossem saídas práticas, simples, bobas.

do que se lê, o primordial é que se aplique na vida. e não é somente o que se vivencia, é isto inicialmente, para depois ser mais e mais forte e tornar-se outro. por costume, não gosto de escrever muito. os que escrevem muito parecem, muitas vezes querer dizer verdades, e não é isso o que pretendo, mas sim escrever para mim, sobre relações e vivências, relações sobre idéias de relações, relações entre idéias de verdade, mutações entre experiências práticas. quando se escreve muito, se delimita idéias e vivências, cortes, tempos e vidas; ou se distancia por demais do que se pretende? parece ser como enxerga. o poder é subvertido quando não se exerce ou quando não se permite que seja exercido e nada mais para esse trecho. a estética que se costuma utilizar na escrita e no livro não é, pois, o que se parece com as revoluções tecnológicas e vivencias atuais. como muito mudou e muito permaneceu, o que permaneceu se mantêm distante. o pragmatismo da linguagem mantêm paradigmas que já não se correspondem com as vivências, que se realizam em paisagens e em movimentos, que não se decodificam da mesma maneira que a repetida.

regras sociais, valores, linguagens, amores e dores se estabilizam em pequenos grupos sociais: normas de seitas religiosas, de escolas, famílias, empresas, grupos de amigos. porém na sociedade elas se multiplicam, se interferem, se chocam, se alteram, se decompõem, se transmutam e, de repente, já não são quase nada do que antes eram.

não vem ao caso que o outro pense ou diga que estou louco para com o que escrevo, é minha particularidade enquanto pessoa, minha diferença que está em questão, não um ‘conceito’ a ser defendido. muitas vezes quando se diz algo à alguém a crítica se mantêm pois o outro é visto como ‘doutor de verdades’, como se esta fosse a função dos livros e da linguagem: enunciar verdades. alguns ‘não concordam com o que escreveu o autor de tal livro’, ou ‘não concordam com o que diz o colega’. o autor escreve para ele, o outro fala para si mesmo, eu para mim e você para você; cada um sua visão de mundo diferente, cada um sua paisagem, sua brisa.

perna cheia de picadas de insetos, pés sujos, acabei de lavá-los no tanque. o escritor não é o que pára em frente à folha, faz sua reflexão e escreve sua ‘idéia’ em palavras, mas escreve no intervalo do tempo, na fila do banco, na viagem de ônibus; é sujeito de outras vivências e escreve por outras circunstâncias. não há anunciador de nada, o importante para mim agora é que quero tomar um pouco de café. algo meu não se trata de uma verdade, mas de uma construção momentânea, uma brisa. não agir por pressuposto talvez seja uma das condições para a liberdade, para um caminho outro... não responder é, muitas vezes, mais libertário do que dizer algo... o simples fato de se cumprimentar alguém já exclui uma espécie de liberdade. uma linguagem diferente pressupõe e propõe uma vivência diferente, única e liberta de outros pressupostos anacrônicos, ideais e 'a prioris'.

a construção que se busca com isso é a construção do nada, que deriva de uma paisagem [outra] experimentada. a escrita propõe um segmento, as vivências des-segmentam-se os segmentados. a voz do silêncio e as meditações do budismo tibetano proporcionam a escuta do que não há. com uma tesoura pode-se cortar palavras que se interessa de um texto e personaliza-lo, desmonta-lo e remonta-lo da maneira que preferir. enquanto alguns eus ficam de fora, os que se mostram aparentam ser o todo.

a descrição das paisagens, não termina, pois sai do texto para além, da imagem e da sensação momentânea, voa nas potencialidades que cada um socar. onde há planta, há planta, onde não há, há planta em potencial. a paisagem está aí, a diferença brota do nada, e o que importa agora é brotar.

bruno, nobru e outros, 7 de março de 2007

interpretar

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