cinza caótico

todos passam um pelo outro

e ninguém sabe ao certo

quem é quem

cidade perplexa

a cidade carrega um conglomerado de elementos
nos deixando baqueados e perplexos
tantas configurações, acasos, ajustes e desajustes
imperceptíveis a olho nu

são tantos carros passando, todo tempo
as pessoas vão ficando abestalhadas
não tem como sacar bem o sentido disso tudo
e tudo nos faz ser como somos

fazer arte é o caralho

Que mané fazer arte no Brasil o caralho,

Com um tanto de gente sem condições básicas de moradia, saúde, alimentação, segurança e educação..

Com os filhos da puta de governantes e empresários pouco se importando como isso tudo..

Com pessoas tendo que procurar incansavelmente por vagas de emprego sem ao menos ter onde morar, sendo mal tratados, tendo que se submeter a qualquer tipo de serviço por muito pouco

Gente se danando todos os dias e os filhos da puta ricos, empresários, governantes, playboyzinhos pouco se fodendo pra isso..

Gente sem lugar pra morar

A justiça decidindo por expulsar pessoas sem moradia de um espaço ocupado, a polícia fazendo o trabalho sujo, oficial da justiça cumprindo a ordem de empresários filhos da puta. Juízes, governantes, empresários e polícia contra o direito básico que é o direito à moradia.

Pessoas tendo que sair sem lugar para morar, sendo expulsos pela polícia

Policiais filhos da puta do caralho, bando de pau mandado da porra, tropa de choque filha da puta, quem é o cretino sem o mínimo de senso. Um policial do caralho que proíbe usar a arvore para construir uma barraca improvisada, filho da puta!

Um empresário cretino fala “vou te dar uma chance”, filho da puta, que chance o caralho seu cuzão, as pessoas precisam viver porra, precisam de emprego, precisam de moradia, caralho!

E agora o que acontece com as famílias que foram expulsas de um local ocupado? Onde elas vão morar? O que o governo faz por elas? O que os empresários fazem por elas? Quer que elas se danem, que morram? Bando de cretinos, estou falando com você que olha pra tudo isso e acha normal.. quer ficar sem lugar pra viver, sem comida, sem segurança? Quer que seu filho não tenha o mínimo de saúde, alimentação e moradia? Você pensa que isso tudo é brincadeira? Isso é realidade porra, e é a realidade do Brasil, em São Paulo, na Avenida Ipiranga, no Centro da cidade.

O que vocês vão fazer depois de verem esta matéria? O que vão fazer depois de ler esse texto? Vão se preocupar com o celular que querem comprar? Com a roupa que vão vestir na festa do final de semana? Na cerveja que vão tomar? Que é isso porra? É assim que se encara a realidade que estamos vivendo? Fingir que está tudo bem? Fingir que nada aconteceu?

Enquanto isso os políticos estão preocupados em agradar seus superiores para garantir suas vagas, empresários estão preocupados em como ter mais lucro gastando pouco, e a classe média diz ser comunista enquanto cheira cocaína e sai pra baladas.

Polícia proibindo trabalhadores ambulantes de exercerem a única atividade que possuem para gerar renda e sustento próprio. Polícia passando por cima de comida de feirantes, abuso de poder.

choques e diferenças

somos diferentes
e lidamos constantemente com as diferenças
na relação com nós mesmos e com os outros

as pessoas, tal como as ciências,
não se dialogam bem umas com as outras
pois elas se chocam
os valores, concepções, pontos de vista são diferentes

os choques podem gerar barreiras..
se ficarmos em choque o tempo todo, não andamos

potências

já cansei muito de toda essa hipocrisia
tá mais que na hora de nos tratarmos como pessoas, humanos
- o que somos, ou não?

romper com as barreiras, clichês e pré-concepções
que nos distanciam uns dos outros

ser o que somos e reconhecer os outros
como potências para a criação e mudança

último tango em convulsão

animas sabem viver,

não pensam e não lidam com dinheiro

enquanto as pessoas fingem ser o que não são

e vivem fazendo o que nem sabem porque

atrás de desejos que não chegam em nada

personificando coisas e coisificando pessoas..

quem vive a vida

não precisa se preocupar com a morte

e solta de si o de mais podre

me coloco numa expressão abstrata

tão fragmentada e múltipla quanto a mim

quando minha escrita não tiver compromisso
nem comigo - aí sim - ela será livre

seres

a torrente

as coisas vão se fazer fazendo..

em conexões entre pessoas e objetos

e conexões entre eu comigo mesmo

todos os modos de subjetividade são lícitos

cada um é um planeta

com espaços, territórios, expansões

voando sobre paisagens num pluriverso

acontecendo entre uma e outra vivência

a torrente faz rizoma com a vida

e nós fazemos rizoma com os pares

com os mares e o mundo

por mais imundo que este pareça ser

raízes, galhos e travessias,

o que acontece entre o nascimento e a morte

cada um com seu tempo de vida e de pausa

não temos pessoas

não temos pessoas
como temos uma mesa
uma bicicleta
um quadro
ou um litro de leite

as coisas ficam
à nossa espera
para usarmos

as pessoas
se usam
a elas mesmas
pois elas
são objetos
delas mesmas
e não de outras

tudo é possível

a escrita é criadora,
com ela se cria o que se quer escrever
e se cria o que se quer viver
cria, estabelece, destrói, re-estabelece
desfaz e re-faz a vida

tudo é muito mais do que se vê, e muito simples
as relações são assim mesmo:
um dia você está com uma pessoa,
outro dia está com outra..
e não vai ser o que você acha,
mas o que você sente;
o que vão corresponder um ao outro
e o que vai te fazer recordar...

as pessoas se unem
por configurações aproximadas de cada um,
tendências e momentos,
espaços, cores e sons..
o amor está aí no 'entre' as coisas,entre eu e você

você é sua maior culpa,
você se cria e se estabelece como voce é
a ca da se gun do
enquanto continua sendo o que se é;

até que um dia
resolva mudar algo
ou sinta diferente..

é simples,

está muito claro,
é só viver o que se sente;
mas para isso precisa
se sentir consigo mesmo
e rasgar todos os valores
de sentimentos prontos e alheios
que aprendemos com os outros:
todos os certos e errados,
todos os reprimidos e incentivados

desaprender para se ter de volta
à si mesmo
aquilo que lhe foi negado,
esquecido e negligenciado
por todos esses anos:
a sua existência,
seus sentimentos mais puros,
o seu amor, o seu ódio
e até o seu sentimento
de paz consigo mesmo
por ser o que se é
e agir como sente

há também que se caminhar
no sentido contrário
de tudo o que nos empurram
dia-a-dia goela abaixo,
e negar estes para se afirmar
o ser que é, o que sente e o que quer

partindo disso, se des-fazer
e se re-criar,
sabendo que tudo é possível

trechos paisagísticos 2

muitos passados se revivem no dia-a-dia

e, se o relógio estiver sempre errado?

um mineiro abre a janela,
no meio da conversa do casal
e, pra cumprimentar,
corta a conversa -sem noção

as coisas não têm medo delas mesmas
as coisas são de ninguém;
há coisas no ar para serem pescadas
muitas andam por aí, dum lado pro outro
algumas bem perto de mim

poucos os que merecem minha atenção
quanto mais o meu aperto de mão;
desprezo os que antipatizo
e antipatizo os que antipatizo,
por diversos fatores e circunstâncias
antipatizo e pronto,
nem tô com saco pra escrever o por quê,
antipatizo e ponto.

estou para-além deste texto
para cuspir, pular, criar e voar...

a gente pensa que sabe como a gente é
acha que se descobriu e tem certeza
de como vai agir em cada situação e circunstância
e se esquece que a vida é muda e que gente muda..
depois percebe que não adianta muito saber
porque também cada situacao é uma
e cada momento leva a um diferente movimento..

de enquanto para talvez (2006)

casas diferentes
um sofá por dia

cada um mantendo grupos de esquemas

de como lidar com outros

e com ambientes que convivem

os vermes permanecem vermes

enquanto nao lhes dao outros nomes

(final de 2006)

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